Mestres

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

INCONSCIENTE

Chegando ao Inconsciente
.......” os psicólogos admitem a existência de uma psique inconsciente apesar de muitos cientistas e filósofos negarem-lhe a existência. Argumentam ingenuamente que tal pressuposição implica a existência de dois “sujeitos” ou (em linguagem comum) de duas personalidades dentro do mesmo indivíduo. E estão inteiramente certos: é exatamente isto o que ela implica. É uma das maldições do homem moderno esta divisão de personalidades. Não é, de forma alguma, um sintoma patológico: é um fato normal, que pode ser observado em qualquer época e em quaisquer lugares............. O homem desenvolveu vagarosa e laboriosamente a sua consciência, num processo que levou um tempo infindável, até alcançar o estado civilizado (arbitrariamente datado de quando se inventou a escrita, mais ou menos no ano 4.000 A.C.) E esta evolução está longe da conclusão pois grandes áreas da mente humana ainda estão mergulhadas em trevas. O que chamamos psique não pode, de modo algum, ser identificado com a nossa consciência e o seu conteúdo.Quem quer que negue a existência do inconsciente está, de fato, admitindo que hoje em dia temos um conhecimento total da psique. É uma suposição evidentemente tão falsa quanto a pretensão de que sabemos tudo a respeito do universo físico.................Há motivos históricos para esta resistência à idéia de que existe uma parte desconhecida na psique humana. A consciência é uma aquisição muito recente da natureza e está num estágio “experimental”. É frágil, sujeita a ameaças de perigos específicos e facilmente danificável. Como já observaram os antropólogos, um dos acidentes mentais mais comuns entre os povos primitivos é o que eles chamam “a perda da alma” – que significa, como bem indica o nome, uma ruptura (ou, mais tecnicamente, uma dissociação) da consciência.Entre estes povos, para quem a consciência tem um nível de desenvolvimento diverso do nosso, a “alma” (ou psique) não é compreendida como uma unidade...............Certas tribos acreditam que o homem tem várias almas. Esta crença traduz o sentimento de alguns povos primitivos de que cada um deles é constituído de várias unidades interligadas apesar de distintas. Isto significa que a psique do indivíduo está longe de ser seguramente unificada. Ao contrário, ameaça fragmentar-se muito facilmente sob o assalto de emoções incontidas.Estes fatos, com os quais nos familiarizamos através dos estudos dos antropólogos, não são tão irrelevantes como parecem. Também nós podemos sofrer uma dissociação e perder nossa identidade. Podemos ser dominados e perturbados por nossos humores, ou tornarmo-nos insensatos e incapazes de recordar fatos importantes que nos dizem respeito e a outras pessoas, provocando a pergunta: “Que diabo se passa com você?”. Pretendemos ser capazes de “nos controlarmos”, mas o controle de si mesmo é virtude das mais raras e extraordinárias. Podemos ter a ilusão de que nos controlamos, mas um amigo facilmente poderá dizer-nos coisas a nosso respeito de que não tínhamos a menor consciência.Carl Jung
Por estas afirmações de Jung vemos como sempre se fala do inconsciente a partir do consciente, até mesmo como a sua negação, mas o que é inconsciente?
No dicionário Caldas Aulete encontramos:“ Inconsciente – que não tem consciência de si mesmo, dos seus atos; a parte de nossa vida psíquica excluída da consciência por recalcamento.”
Assim, inconsciente sempre aparece como adjetivo, como aquilo que não é consciente.
Freud porém nos apresenta o ICS como substantivo, como um sistema psíquico distinto dos demais e dotado de atividade própria.
Na 1ª tópica Freud sistematiza o ICS tentando ordenar os conteúdos representativos das pulsões. Segundo Zeferino Rocha “ numa atitude apolínea”,.... tenta controlar com a razão o mundo irracional do ICS.”Na 2ª tópica Freud dá prioridade à dimensão pulsional do ICS, passando a “ocupar o 1º plano o elemento dionisíaco”. Freud apela para um além da razão.Assim podemos definir, baseados em Freud, o ICS como: um sistema dinâmico regido pelo processo primário, que se estrutura como um campo de forças.
Muitas vezes – antes e depois de Freud – o ICS foi identificado com o caos, o ilógico, o mistério.
Segundo Scarlett Marton o termo ICS no pensamento de Nietzsche designa o domínio que escapa à linguagem, o domínio do indizível, não podendo remeter a nenhum princípio ordenador mas significando silêncio, singularidade, indizibilidade.
O ICS então, não seria derivado da consciência, não seria formado de conteúdos recalcados de representações conscientes.
Deleuze distingue dois usos do termo ICS na obra de Nietzsche: um para caracterizar a atividade, de forma geral, e outro para designar um dos sistemas do aparelho reativo. As forças reativas sempre limitam a ação, dividem. As forças ativas são um estado de expansão, intensificação; elas afirmam a potência, criam valores.
Para Naffah Neto “ o ICS ativo é que constitui de fato o ICS no sentido forte do termo. O ICS reativo só é ICS no sentido tópico do conceito, quer dizer, na medida em que ele corresponde a um passado que precisa se manter afastado da consciência para que esta acompanhe os movimentos do real, e o presente possa ser o tempo dominante. Em outros termos, ele só é ICS porque o homem está constituído por uma temporalidade e precisa, devido às necessidades adaptativas, manter um reservatório de memória disponível à consciência mas distinto dela........”já disse Suely Rolnik: Ele (o ICS) designa um universo indizível e invisível, marginal à consciência e com o qual é preciso entrar em ressonância. Invisível e indizível, porque é fluxo, devir, sem forma ou representação definida, campo de forças móveis e vibráteis. Espaço virtual, gerador de novos códigos, onde reencontramos a pulsação da vida na sua forma afirmativa: o sim inicial a tudo o que é humano”.............
Com base no princípio nietzschiano, o ICS seria um conjunto de forças móveis, indizíveis/invisíveis, que não tolera formas fechadas, acabadas, excludentes; não conhece ordem; suas leis são o acaso, o devir, a multiplicidade. Não conhece morada fixa, sendo o eterno construir e destruir de si próprio.
O ICS de Freud – do recalcado, não se opõe ao ICS da vontade de potência, do esquecimento de Nietzsche. Em arte terapia trabalhamos somando conceitos, teorias, experiências.
É necessário estabelecer a diferença entre recalque e esquecimento.O recalque é um dos destinos do representante ideativo das pulsões, tendo por finalidade evitar o desprazer. O outro representante psíquico da pulsão – o afeto – não pode, ele mesmo, ser recalcado. O que se torna ICS é a idéia à qual o afeto estava ligado, podendo também ser deslocado para outra idéia.Em outras palavras o recalque afasta as representações da consciência, separando-as das palavras, evitando o desprazer. Entretanto estas representações continuam atuando de forma subterrânea, reaparecendo através do retorno do recalcado.O esquecimento é um mecanismo não consciente, que descreve um processo de elaboração ativa de digestão das experiências, ou seja, a plasticidade das forças ativas regenera, remodela, torna possível a digestão das experiências.
.......".um mar de forças tempestuando e ondulando em si próprias, eternamente mudando, eternamente recorrentes, com descomunais anos de retorno, como uma vazante e enchente de suas configurações, partindo das mais simples às mais múltiplas, do mais quieto, mais rígido, mais frio, ao mais ardente, mais selvagem, mais contraditório consigo mesmo, e depois outra vez voltando da plenitude ao simples, do jogo de contradições de volta ao prazer da consonância (..), como um vir a ser que não conhece nenhuma sociedade, nenhum fastio, nenhum cansaço – esse meu mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-si-próprio, do eternamente-destruir-a-si-próprio (..) quereis um nome para esse mundo? (..) Esse mundo é a vontade de potência – e nada além disso! E também vós sois essa vontade de potência – e nada além disso."Nietzsche

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