Mestres
domingo, 23 de novembro de 2014
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
ANOREXIA/BULIMIA
É muito antigo o registro de histórias de pessoas com bulimia e anorexia nervosas. Sabe-se que, desde a Antiguidade, algumas faziam jejum ou vomitavam várias vezes por dia para emagrecer ou manter o peso que julgavam ideal. Na Idade Média, santas e beatas da Igreja Católica tinham um padrão de conduta bastante semelhante ao das anoréxicas de hoje. Mudavam apenas os fatores desencadeantes do processo. São clássicos os casos de Santa Catarina de Sena ou de Santa Maria Madalena que faziam jejum, vomitavam e usavam ervas purgantes. Tratava-se de um jejum beatífico que tinha como propósito maior aproximação com Deus.
No livro “Do altar às passarelas – da anorexia santa à anorexia nervosa”, a psicanalista Cybelle Weinberg e o psiquiatra Táki Cordas, relatam que depois da Idade Média, a Igreja começou a ver com maus olhos o caso das santas jejuadoras e o hábito caiu em desuso. Histórias à parte, esses transtornos afetam hoje cerca de 1% da população mundial, sobretudo mulheres adolescentes.
Pessoas com anorexia nervosa sempre possuem o peso abaixo do normal e recusam-se a se alimentar de forma correta, negando os riscos que correm na ausência de uma alimentação saudável. Para avaliar esta perda exagerada de peso, usa-se o cálculo do IMC (índice de massa corpórea, que é igual ao peso dividido pela altura ao quadrado). Por exemplo, uma mulher normal o índice varia de 18 a 25, já no anoréxico o número pode ser abaixo de 17, ou seja, é gravíssimo.
A palavra que define a anorexia é medo. Medo de engordar ou de ficar igual a alguém da família que tenha sobrepeso .
Não há medicações específicas para curar a anorexia e, sim, um tratamento multidisciplinar, que abrange psicólogos, endocrinologistas e nutricionistas. Em alguns casos, a psicoterapia pode ajudar a melhorar a visão que se tem do seu próprio corpo, “mas é um transtorno que exige paciência, cautela e perseverança, já que na cabeça do anoréxico, é certo não comer”.
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Na bulimia, os sintomas são diferentes. Não é a magreza que chama a atenção. Às vezes, são mulheres de corpo escultural que cuidam dele de maneira obsessiva. Passam o dia fazendo dieta. Vão a restaurantes e pedem somente uma salada. Se houver uma batatinha palha no prato, colocam-na de lado. No entanto, de uma hora para outra abrem a geladeira ou vão a uma confeitaria e comem tudo o que veem pela frente.
Apesar de a ingesta normal do indivíduo variar entre 2.000 Kcal e 2.500 Kcal diárias, elas conseguem comer num único episódio de 5.000.Kcal a 20.000.Kcal de uma vez. Depois vomitam, vomitam muito. Algumas chegam a vomitar 5,10, 15 vezes por dia para evitar o aumento de peso e provocam tantos vômitos que chegam a ferir os dedos.
Tratar de pessoas com distúrbio alimentar é difícil porque é frequente a associação dessa patologia à depressão, síndrome do pânico, comportamentos obsessivo-compulsivos, cleptomania, automutilação, promiscuidade sexual, alcoolismo e abuso de drogas. É raro encontrar um quadro isolado e todas as manifestações da doença precisam ser tratadas.
fonte:http://drauziovarella.com.br/entrevistas-2/anorexia-nervosa-e-bulimia/
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Alegria e tristeza
A gente está alegre, não é alegre. Porque esse sentimento não se mantém para sempre. Surge, colore o mundo e some feito bola de sabão. Quando se está triste, bom saber, acontece igualzinho. Rubem Alves
Freud disse que são duas as fomes que moram no corpo. A primeira fome é a fome de conhecer o mundo em que vivemos. Queremos conhecer o mundo para sobreviver. Se não tivéssemos conhecimento do mundo à nossa volta, saltaríamos pelas janelas dos edifícios, ignorando a força da gravidade, e poríamos a mão no fogo, por não saber que o fogo queima.
A segunda fome é a fome do prazer. Tudo o que vive busca o prazer. O melhor exemplo dessa fome é o desejo do prazer sexual. Temos fome de sexo porque é gostoso. Se não fosse gostoso, ninguém o procuraria e, como conseqüência, a raça humana acabaria. O desejo do prazer seduz.
Gostaria de poder ter tido uma conversinha com ele sobre as fomes, porque eu acredito que há uma terceira: a fome de alegria.
Antigamente eu pensava que prazer e alegria eram a mesma coisa. Não são. É possível ter um prazer triste. A amante de Tomás, da A Insustentável Leveza do Ser, se lamentava: “Não quero prazer, quero alegria!”
As diferenças. Para haver prazer é preciso primeiro que haja um objeto que dê prazer: um caqui, uma taça de vinho, uma pessoa a quem beijar. Mas a fome de prazer logo se satisfaz. Quantos caquis conseguimos comer? Quantas taças de vinho conseguimos beber? Quantos beijos conseguimos suportar? Chega um momento em que se diz: “Não quero mais. Não tenho mais fome de prazer...”
A fome de alegria é diferente. Primeiro, ela não precisa de um objeto. Por vezes, basta uma memória. Fico alegre só de pensar num momento de felicidade que já passou. E, em segundo lugar, a fome de alegria jamais diz: “Chega de alegria. Não quero mais...” A fome de alegria é insaciável.
Bernardo Soares disse que não vemos o que vemos, vemos o que somos. Se estamos alegres, nossa alegria se projeta sobre o mundo e ele fica alegre, brincalhão. Acho que Alberto Caeiro estava alegre ao escrever este poema: "As bolas de sabão que esta criança se entretém a largar de uma palhinha são translucidamente uma filosofia toda. Claras, inúteis, passageiras, amigas dos olhos, são aquilo que são... Algumas mal se vêem no ar lúcido. São como a brisa que passa...E que só sabemos que passa porque qualquer cousa se aligeira em nós...”
A alegria não é um estado constante – bolas de sabão. Ela acontece, subitamente. Guimarães Rosa disse que a alegria só acontece em raros momentos de distração. Não se sabe o que fazer para produzi-la. Mas basta que ela brilhe de vez em quando para que o mundo fique leve e luminoso. Quando se tem a alegria, a gente diz: “Por esse momento de alegria valeu a pena o Universo ter sido criado”.
Fui terapeuta por vários anos. Ouvi os sofrimentos de muitas pessoas, cada um de um jeito. Mas por detrás de todas as queixas havia um único desejo: alegria. Quem tem alegria está em paz com o Universo, sente que a vida faz sentido.
Norman Brown observou que perdemos a alegria por haver perdido a simplicidade de viver que há nos animais. Minha cadela Lola está sempre alegre por quase nada. Sei disso porque ela sorri à toa. Sorri com o rabo.
Mas, de vez em quando, por razões que não se entende bem, a luz da alegria se apaga. O mundo inteiro fica sombrio e pesado. Vem a tristeza. As linhas do rosto ficam verticais, dominadas pelas forças do peso que fazem afundar. Os sentidos se tornam indiferentes a tudo. O mundo se torna uma pasta pegajosa e escura. É a depressão. O que o deprimido deseja é perder a consciência de tudo para parar de sofrer. E vem o desejo do grande sono sem retorno.
Antigamente, sem saber o que fazer, os médicos prescreviam viagens, achando que cenários novos seriam uma boa distração da tristeza. Eles não sabiam que é inútil viajar para outros lugares se não conseguimos desembarcar de nós mesmos. Os tolos tentam consolar. Argumentam apontando para as razões para se estar alegre: o mundo é tão bonito... Isso só contribui para aumentar a tristeza. As músicas doem. Os poemas fazem chorar. A TV irrita. Mas o mais insuportável de tudo são os risos alegres dos outros que mostram que o deprimido está num purgatório do qual não vê saída. Nada vale a pena.
E uma sensação física estranha faz morada no peito, como se um polvo o apertasse. Ou esse aperto seria produzido por um vácuo interior? É Thanatos fazendo o seu trabalho. Por que quando a alegria se vai ela entra...
Os médicos dizem que a alegria e a depressão são as formas sensíveis que tomam os equilíbrios e os desequilíbrios da química que controla o corpo. Que coisa mais curiosa: que a alegria e a tristeza sejam máscaras da química! O corpo é muito misterioso...
Aí, de repente, sem se anunciar, ao acordar de manhã, percebe-se que o mundo está de novo colorido e cheio de bolhas translúcidas de sabão... A alegria voltou!
Rubem Alves nasceu no interior de Minas Gerais e é escritor, pedagogo, teólogo e psicanalista.
fonte: http://casa.abril.com.br/materia/rubem-alves-alegria-e-tristeza
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