Mestres

quarta-feira, 9 de junho de 2010

SOMOS LIVRES?



Uma sociedade perfeita!
Nada de crimes, de violência.
Nada de miséria.
Sem fome, sem insegurança, sem desabrigo.
Não será este o sonho de todos nós?
A possibilidade de ser recompensado pelo trabalho, pelo esforço pessoal. De dispor de tempo suficiente para dedicar-se ao lazer e à cultura. De não precisar ser escravo do tempo ou do trânsito. De poder compartilhar da relação com outros, de não ser explordor ou explorado. Uma sociedade igualitária, oportunizando a todos os mesmos direitos e deveres, viabilizando ao homem a conquista de si mesmo. Será possível sonharmos com um mundo onde não existam pessoas dedicando-se a acumular riquezas, a dominar os outros, a destruir matas, rios, vidas?
Skinner nos trás no seu romance Walden Two, perfeitamente fundamentada pela ciência do Comportamento e pela Teoria do Reforço, esta possibilidade.
Tomando como ponto de partida para nossa reflexão esta sociedade utópica idealizada por Skinner e das críticas por ele recebidas, vemos nossa sociedade “democrática e livre”, no entanto, utilizar-se dos pressupostos behavioristas para manipular e controlar os indivíduos. Este controle é exercido, muitas vezes de forma sutil, pela política, pela economia, pelos meios de comunicação, que permanentemente conduzem as pessoas a um grau cada vez maior de insatisfação, numa busca incessante de querer sempre ter mais e aparentar um “ideal” ilusório.
Onde fica o SER humano?
Ao longo da história da humanidade, todas a sociedades e culturas apresentaram algum tipo de controle no comportamento de seus membros. A manipulação religiosa, financeira, ideológica, de status ou de poder e, principalmente educacional. Sim, a educação sempre esteve a serviço do poder. No Brasil hoje vemos ainda uma grande massa de analfabetos, de jovens alienados de sua própria realidade social, de adultos covardes, com medo de questionarem, de se expressarem, se é que ainda o sabem.
Por que?
No passado muitos tinham acesso às escolas. As instituições públicas de ensino eram de qualidade e disputadas inclusive pelos que podiam arcar com esta despesa. Mas os anos foram passando, o sistema educacional se modificando, deteriorando, excluindo os menos favorecidos de seu processo, limitando e embotando a capacidade intelectiva dos que nela permaneceram por meios de técnicas de condicionamento, porque não interessava aos poderosos um povo com conhecimentos. O saber leva a interrogações, críticas e reivindicações.
Em tempos remotos o valor de um homem era a sua palavra, a sua honestidade, sua dedicação à familia e amigos, seu trabalho. Hoje mede-se o valor de um homem pelo que possa comprar e ostentar.
Acaso somos livres?
Onde está nossa liberdade?
Ao reconhecer que sempre tivemos e continuamos a ter nosso comportamento se não dirigido e controlado, pelo menos induzido por agentes externos, não significa a sua aceitação.
Cremos de fundamental importância a busca de uma sociedade melhor e mais justa, mas o homem vem ao mundo para conviver com diferenças e a partir delas poder crescer. Ele tem que ser senhor de seu destino e do destino da própria terra. Por ele mesmo deve ser capaz de aprender a ser homem livre e responsável. Aceitamos a validade do reforçamento positivo, do reconhecimento de sua aplicabilidade em situações específicas a nível educacional, psicológico e social, principalmente quando visa a mudanças de comportamento patológicos indispensáeis à criação de situações favoráveis a um posterior processo de desenvolvimento e crescimento. Não podemos é aceitar a sua utilização com o objetivo de controle e dominação como vem sendo feito ao longo destes anos, reduzindo as capacidades do homem de tornar-se um SER no mundo, do mundo, com o mundo e para o mundo.
Eleonora Fonseca Vieira, 1997

Um comentário:

  1. Parabéns pelo magnífico blog. De muito bom gosto,
    faz diferença ao meu olhar.

    De cara, quedei-me diante da tela do amor universal, para mim, a única porta, o único sinal
    luminoso nas brumas em que caminha o ser humano:
    a realização da consciência de Deus , todo um reino, todo o universo passando dentro de si mesmo. E assim projetando-se como o sol, por tudo que existe fora de si.

    Gostei de ler esta matéria sobre a condição humana:

    "...vemos nossa sociedade “democrática e livre”, no entanto, utilizar-se dos pressupostos behavioristas para manipular e controlar os indivíduos. Este controle é exercido, muitas vezes de forma sutil, pela política, pela economia, pelos meios de comunicação, que permanentemente conduzem as pessoas a um grau cada vez maior de insatisfação, numa busca incessante de querer sempre ter mais e aparentar um “ideal” ilusório.
    Onde fica o SER humano?..."

    |Como escreveu André Carneiro, o grande André:
    . "Você não percebe? Não há continuidade, nem lógica. Vive-se sem saber por quê. No fim, todo o mundo procura divertir-se ao máximo, sem ligar para mais nada."

    (ANDRÉ CARNEIRO, 1991, p. 163)

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