Mestres

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Aspectos psicológicos da Relação mãe-bebê




 A função materna

Freud havia referido a necessidade do cuidado materno para a existência do bebê e de seu sistema psíquico e Melanie Klein (1981) aprofundou a noção de instâncias psíquicas desenvolvidas por Freud, sublinhado o que se passa no registro inconsciente. Introduz a noção do vínculo fantasmático mãe-filho, numa relação dual, pondo em relevo a acuidade da tensão destrutiva que acompanha a pulsão do amor. Para ela há sempre intenção agressiva em todo impulso de amor. Admite vida psíquica constitucional ainda no útero da mãe, examinando de forma superficial a influência do ambiente.

Winnicott (1988) enfatizou a influência do meio ambiente no desenvolvimento psíquico do ser humano, afirmando que o homem trás em si uma tendência inata a se desenvolver e unificar, atualizando-se no funcionamento dos processos de maturação – formação e evolução do EU, do ISSO e do SUPEREU – bem como ao estabelecimento dos mecanismos de defesa.

Para o referido autor lactente e cuidado materno formam uma unidade, pois se não existisse cuidado materno, não haveria lactente. Nos primeiros tempos de vida o bebê depende exclusivamente dos cuidados que recebe; depende da satisfação de suas necessidades de alimentação, aconchego, higiene. Nesta fase de dependência absoluta a criança desconhece esse seu estado dependente, não se diferenciando do meio ambiente.

Winnicott fala de duas fases: a dependência absoluta – do nascimento aos 6 meses de idade – e dependência relativa – dos 6 aos 24 meses. Destaca 3 funções maternas que possibilitam a adaptação da mãe às necessidades do bebê: a apresentação do objeto, o holding, o handling. A função materna da apresentação do objeto – seio ou mamadeira, constitui a primeira refeição teórica e também real. Se a mãe ou quem exerce essa função, apresenta a primeira refeição no momento certo, o bebê terá a ilusão de que ele mesmo criou o objeto, gerando uma experiência de onipotência. É desta capacidade de responder à necessidade alimentar do bebê no momento certo, sem que se torne fonte de angústia, que o ser humano vai tornar-se capaz de vivenciar emoções e sentimentos.

A Segunda função materna, o holding – sustentação, diz respeito à proteção contra os perigos físicos; é o modo como a mãe vai cuidar de seu bebê, protegendo-o, respeitando sua sensibilidade, mantendo uma rotina calma e acolhedora, possibilitando-o integrar-se no tempo e no espaço.

A terceira função – handling – diz da manipulação do bebê pelos cuidados maternos. São os toques, o dar banho, trocar fraldas, mantendo o seu bem estar físico. É através do exercício desta função que o bebê experimenta-se um corpo unido à sua vida psíquica. Winnicott (1988) chama de personalização.

A mãe que consegue realizar satisfatoriamente estas três funções adaptando-se às necessidades do bebê, é chamada de mãe suficientemente boa.

“ Se o cuidado materno não é suficientemente bom então o lactante realmente não vem a existir, uma vez que não há a continuidade do ser; ao invés a personalidade começa a se construir baseada em reações a irritações do meio”. ( Winnicott, 1988, pg. 53)


Poderiamos pensar que bastam os cuidados físicos: alimentar, banhar, trocar; mas o homem se constitui no campo da linguagem e torna-se necessário que a mãe, através de seus cuidados, mergulhe seu bebê em palavras, em cantos, sussuros e versos, plenos de sentido e significação.

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