Mestres

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Procrastinação

Excelente texto de minha amiga Cristina Belo.





Muito bem, já vai abril e as resoluções de ano novo continuam onde sempre estiveram. No campo das ideias.

A esta altura eu já deveria ter parado de fumar, já deveria ter abolido alguns alimentos da dieta e já deveria ter reduzido também o consumo de bebida alcoólica. Todos estes hábitos nada saudáveis que ainda fazem parte do meu dia a dia mas não contribuem em nada para minha longevidade já deveriam ter sido abolidos há tempo, mas meu lado hedonista é muito muito autoritário e exigente,  então cá estou eu, presa aos prazeres mundanos, colocando-os no patamar das missões impossíveis que elegemos como objetivos para o ano que vem.
Porque procrastinamos tanto? porque não damos prioridade ao que nos faz bem? (e aí se inclui a não procrastinação, pois que ela   gera ansiedade). Porque só na segunda feira, ou em 1 de janeiro?
Muito já se escreveu sobre isso. Muito já li sobre isso, mas colocar em prática, o que é bom, nada. Esta é uma das minhas palavras: procrastinar, assim como hedonismo (acusação que já recebi de minha amiga Janaína Nascimento e que me pegou muito de surpresa). O prazer momentâneo, efêmero,  que me afasta do que me angustia, do que me incomoda. Que me afasta do mundo real. do cotidiano insosso.
Já se passaram 4 meses e nem mesmo consegui escrever uma postagem nova para o blog. Ah! deixa pra amanhã, que vou ter ideia melhor. Há vários aqui começados,  rascunhados, inacabados. Como tudo o mais, como as decisões de ano novo.
Tudo bem que no Brasil o ano só começa depois do carnaval, é prática nacional, é determinação cultural. Mas apegados a isso, vamos deixando a vida passar e não damos a devida atenção ao que é realmente importante.  Cuidar mais de nós, dar aquele telefonema, arrumar a gaveta, jogar fora os papeis acumulados num canto. Tudo que vai nos sufocando, que se acumula e acaba virando  excesso...de peso, de dores, de tarefas não cumpridas.
Procrastinar é disso que se trata. de acumular peso. Pois o que não resolvemos logo, vai aumentando.
Meu primeiro sogro dizia...se tiver muita coisa pra resolver em um dia não resolva nada, deixe pra amanhã. Uma parte vai se resolver sozinha e aí você resolve o que sobrou. Acho que levei isso muito a sério.
Fugir das responsabilidades chatas do dia a dia é tentador. Mas não fazer, não resolver é muito pior, pois resulta em acumulação,  excesso e a isso se juntam as novas preocupações, desejos, responsabilidades, deveres. Daí quando você vê  não tem mais como dar conta. Passou, cresceu demais.
Então vamos nos levantar, tirar o mofo,  fazer a faxina e procrastinar a procrastinação. Fazer agora dá sempre uma sensação de prazer, o alívio de sacudir o excesso, de fazer hoje logo de uma vez. e aí amanha talvez, começar tudo de novo com a casa a cara e a coragem limpas. com a agenda de novo em ordem, com o prazer retomado livre de culpa.
Em um canal de clássicos revi hoje o filme Heart and Soul de 1993 com Robert Downey Jr., traduzido como Morrendo e Aprendendo, comédia muito comovente sobre um grupo de pessoas que morrem juntas em um acidente de ônibus e ficam presas a terra, ligados a um bebe que acabara de nascer em um carro próximo ao local do acidente. Todos tinham assuntos a resolver por isso não foram levados imediatamente. Um deles passou a vida desejando ser cantor mas nunca conseguiu fazer uma audição por medo de falhar.  Em sua cena de libertação, ele recusa-se a tentar cantar em público, usando o corpo de Robert Downey por medo outra vez e diz ser um fracasso como sempre foi em vida. O personagem de Downey lhe diz:" voce foi um fracasso porque nunca tentou...".
O que isso tem a ver? Tudo. Procrastinar, deixar pra depois, nada mais é do que expressar o medo de falhar, de "ser um fracasso", de não conseguir resolver os problemas por menores que sejam. Recomendo o filme, pois ao vê lo outra vez lembrei de que não temos tanto tempo assim e de uma hora pra outra, já não poderemos resolver o que ficou pro dia seguinte.
Eu vou tentar. Já fiz a lista de tarefas que precisam da minha atenção, já peguei meus livros de cuidados com a saúde para montar um cardápio mais adequado às limitações da idade do meu corpo e vou voltar a tomar minha "água de melissa" pra ajudar com o vicio do cigarro, este sim, um grande problema. E pra vocês que se cansaram dos tantos Deja Vu, dos clichês e dos já li isso em algum lugar, vai uma dica de aromaterapia pra dar um gás: capim limão ou alecrim pra "despertar" como diz Gorethi Moura e grapefruit pra alegrar um pouco.

Até mais

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Só pra informação, comecei este texto em março, terminei em abril mas só fiz a revisão pra publicar hoje...será que eu consigo???? 

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Postado por Blogger no Diário mínimo em 5/03/2013 09:02:00 AM

quinta-feira, 2 de maio de 2013

INSATISFAÇÃO





A maioria das pessoas vive a criticar os políticos, os corruptos, os ladrões. Entretanto me estarrece o fato de não perceberem que, de certa forma, não são tão diferentes de tantos que são alvo de suas observações.
Será que não são ladrões os que fazem instalações clandestinas de água e luz? Os que procuram dar sempre um “jeitinho” para conseguir as coisas? Os que recebem troco a mais e não devolvem? Os que andam pelo acostamento  “roubando” a vez dos que pacientemente esperam?
Não são corruptos quando se relacionem visando alguma vantagem?
Não são desonestos quando mentem sobre seus sentimentos, quando enganam, quando traem?
Os nossos políticos nada mais são que um reflexo de nossa sociedade. São os representantes de um povo que os colocou no poder; no fundo querem apenas uma oportunidade de ganho fácil, pois neste país trabalho é coisa sem valor.
Vencer pelo próprio esforço? Nem pensar. Os jovens voltam-se para o que consideram o “ganho” fácil, porque não se cultivam mais virtudes – honestidade, perseverança, solidariedade – ou cultura.
O Deus é o dinheiro, o material; é o corpo sarado, é o sexo, a ostentação.
Nesta busca do ter, cada vez mais vemos as pessoas infelizes, vazias. Nada preenche seu interior posto que oco está pelo desejo insaciável de superficialidades.
Os sentimentos duradouros esvoaçaram, quem sabe levados pela irrealidade de um padrão de vida fútil, de relacionamento descartáveis, como todas os mercadorias resultantes do atual sistema de produção.
Há uma busca desenfreada pela permanência da juventude, a qualquer preço, e, desta forma, a maturidade não chega, já que permanecem aprisionados às sensações adolescentes.
É muito triste observar nossa sociedade contemporânea; a sociedade da mentira, dos fakes.
Em meus 60 anos vivi inúmeras mudanças, presenciei vitórias, lutas, tristezas.
Mas hoje o meu sentimento é de total decepção com um povo que se identifica com protótipos criados pela mídia, objetivando exatamente que se sintam infelizes, feios, velhos, insatisfitos, inadequados, para que possam reverenciar e seguir na busca desenfreada da ilusão oferecida pela mídia a serviço do Senhor Caapital.
Compre beleza!
Compre juventude!
Compre status!
Compre a mentira!
Compre o falso!
Você só será bem visto se se enquadrar nos modelos estabelecidos.
Então...
Compre pois, sua felicidade.
... E ela nunca chega...
Porque a insatisfação é o sentimento permanente, é ela que fará você ir às compras para alimentar a fera capitalista.